O André Tavares tornou-se uma figura relevante e incontornável do debate e da cultura arquitetónica.
Hoje em dia, nas faculdades de arquitetura, ouvimos diária e compulsivamente falar em investigação e todos se intitulam como tal, na maior parte das vezes, de modo arbitrário e sem nexo. O André é a personificação paradigmática e de referência, da investigação em arquitetura, em múltiplas plataformas e registos. Com uma, já extensa, obra realizada dentro e fora da academia. Uma obra sempre marcada pela originalidade e sofisticação dos conteúdos e pelo modo independente de os tratar e apresentar. Sempre no fio do rigor extremo, como uma sensibilidade exclusiva e com o necessário e doseado pragmatismo metodológico, sem o qual, nenhuma obra se finaliza. O resultado é um corpo de trabalho muito sólido, de enorme qualidade, que tem vindo a ganhar, expressiva reputação internacional.
Tudo isto que acabei de enunciar, não pertence ao domínio da subjetividade. Está fundado em inúmeros factos, a maior parte deles públicos, dada a sua difusão e notoriedade. Vou apenas enumerar alguns, não por serem os mais relevantes, dado que essa hierarquia no seu currículo não faz muito sentido, antes porque tive que selecionar, de modo a rapidamente lhe passar a palavra.
Licenciou-se e doutorou-se em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, onde foi também professor assistente, papel que também desempenhou na Universidade do Minho, onde foi investigador principal, sendo também investigador convidado na École d’architecture de la ville et des territoires Marne-la-Vallée , no a Observatório da condição suburbana da Universidade Gustave Eiffel, em Paris.
É desde 2021, investigador Principal do CEAU da FAUP, tendo sido um dos cinco investigadores nacionais a ser este ano galardoado com uma bolsa de Consolidação do Conselho Europeu de Investigação, propondo-se a traçar uma história socioecológica da arquitectura no Atlântico Norte a partir dos peixes.
Este mais recente cargo seguiu-se à sua função como investigador residente no Instituto de Teoria e História da Arquitetura do ETH, em Zurique e professor de seminário de Teoria, na mesma Instituição. Consequencia dessa estadia, foi recentemente publicado, o livro, “Vitruvius without text, the biography of a book”, com o selo editorial da GTA Verlag. Por falar em livros, nesse campo, a sua produção é absolutamente esmagadora, como se costuma dizer, em “quantidade e qualidade”, cliché que aqui se aplica “que nem uma luva”. Destaca-se naturalmente o seu já famoso e celebrado compendio “A Anatomia do livro de Arquitectura”, fruto da sua investigação pós-doc, tida como bolsista independente no Centro Canadiano de Arquitectura em Montreal, editado pela Lars Muller, em parceria com a sua DAFNE, a mais consistente e distintiva, editora portuguesa de cultura arquitectonica e cujos livros encontramos muito facilmente, nas melhores livrarias das principais cidades europeias.
Acumula já, uma vasta experiência no campo da curadoria e da produção expositiva, sendo consultor e curador do programa de exposições da Garagem Sul do Centro Cultural de Belém. Foi o comissário da Trienal de Arquitectura de Lisboa sob o titulo e tema da « Forma da Forma» em parceria com o saudoso Diogo Seixas Lopes, com quem já tinha anteriormente, partilhado a direcção do Jornal dos Arquitectos da Ordem dos Arquitectos Portugueses, instituição que lhe atribuiu o Prémio Távora.
Esse memorável evento expositivo, teve um impacto único, catapultando a Trienal de Lisboa, para uma atenção e consagração da parte da critica internacional.
Permitam-me terminar com uma nota pessoal, mas foi exactamente nessa ocasião, que tive pela primeira vez, o privilégio de trabalhar com o André Tavares.
Quando o José Miguel Rodrigues me desafiou a organizar este seminário da Opção E do PDA da FAUP, o seu nome surgiu-me com a maior das naturalidades, como: absolutamente essencial.
Obrigado André, por teres aceitado o nosso convite, que tanto prestigia o nosso curso.
Nuno Brandão Costa, 2021