O nosso convidado de hoje, Daniel Blaufuks, é um artista, cuja criação é realizada a partir da imagem fotográfica, da película de filme, do vídeo e de outros registos visuais, originários do registo da realidade, a partir da utilização funcional da luz, do seu reflexo e da sua refracção.
O conteúdo do seu trabalho cruza, em permanência, a memória e a história. Sendo que ambas são distintas e aportam a nitidez de uma atmosfera particular.
O arquivo dos objectos, dos lugares e das pessoas, concentra uma área considerável do seu devir conceptual. Pode-se considerar uma actividade em que o objecto documental, adquire um especial relevo, para a entrada no mundo das ideias, que o artista propõe.
O formato e a dimensão, têm também um desempenho fundamental para a sugestão e a percepção crítica daquilo que é apresentado. Os mesmos variam em função da imagem representada e do objectivo da sua apreensão – portanto, da escala do seu sentido.
Muito importante e artisticamente distintivo, o livro ocupa um papel central na génese da sua obra, sempre concebido como um objecto completamente autónomo. Um objecto artístico autossuficiente com uma linguagem específica e por consequência um propósito estético definido e individual. Muitas das vezes, as viagens, a literatura ou o diálogo com outros autores, constituem ímpetos para os seus conteúdos e para os relatos ópticos, que a cada página se desprendem da referência original para outras figuras, outras cenas e aparências ou outras perspectivas.
Na nossa opção de estudos (E), a arquitectura não é inequivocamente uma arte e o trabalho do Daniel não terá, aparentemente, nada que ver com a arquitectura. O exercício do projecto lida diariamente com a funcionalidade das técnicas de outras especialidades que tem mais que ver com códigos e numerações precisas da engenharia, definitivamente afastadas da relatividade do equívoco das ditas ciências sociais. Ao invés, já se percebeu, que os métodos de raciocínio da arte, têm tangências com as metodologias conceptuais da arquitectura e, no caso, o trabalho em teoria-do-projecto recorre a sistemas de estudo analógico e imagético, cuja semelhança poderá ser vertida à referência do nosso autor de hoje: para além de apreciar a qualidade, a notoriedade e a celebridade da sua obra, perceber o procedimento da construção do seu corpo de trabalho, poderá ser um paralelo útil e fértil para as teorias-e-práticas de projeto que aqui se empreendem, razão pela qual nos pareceu óbvio este convite, agradecendo desde já a ilustre presença do artista Daniel Blaufuks, creio que pela primeira vez na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Nuno Brandão Costa, março de 2023