Apresentação — Elías Torres

“Não como arquitecto, apenas como explorador da arquitectura, considero-me um diletante, no mesmo sentido em que um grupo de arquitectos e entusiastas de arte ingleses se baptizaram como a Sociedade dos Diletantes, que é como dizer: sinto-me muito mais guiado pela curiosidade e pelo fascínio, pelo diálogo entre os meus pares e pelo oficio, do que propriamente pela ânsia de uma qualquer precisão académica.

Interessam-me todos os aspectos da arquitectura, mas sempre senti uma particular curiosidade por ver os seus interiores, que amiúde se revelam enigmáticos e surpreendentes, muitas vezes distantes do que à primeira vista, aparenta a sua envolvente exterior e em muitos casos, caracterizados pela sua iluminação natural. A porta de um edifício, pode sempre conduzir à descoberta de um espaço inesperado.”

Elías Torres é um arquitecto do inesperado. Para o apresentar, para além das palavras do próprio que acabei de ler, vou utilizar a nota de uma memória pessoal:

No princípio deste século, era eu arquitecto há pouco tempo, fui visitar o recém inaugurado fórum de Barcelona, na ânsia de ver novos edifícios, que era como quem diz formas contemporâneas, disruptivas e vanguardistas, como era hábito suceder nestes eventos que entre o fim dos anos 90 e princípio dos anos 2000, se sucederam em catadupa. Mas de facto o que me abalou e me ficou na mente, não foi nenhum edifício ou pavilhão em particular. Antes um enorme espaço público reconfigurado através de um objecto utilitário e infraestrutural, que se erguia e virava para a luz solar, com uma escala e vigor impressionantes. Uma enorme pérgola fotovoltaica que simultaneamente captava a energia natural e abrigava o publico configurando um recinto, através de uma forma que se estabelece entre a ideia de uma escadaria monumental e um auditório clássico. A proposta urbana para toda a área apresentava-se toda, como uma superfície contínua e sucessiva de elementos arquitetónicos cuja identificação e tipologia não correspondiam à lógica convencional do edificado, antes à criação de um espaço urbano através da articulação entre momentos de relação entre a natureza e o artificio, a manipulação da dimensão e da escala do objecto estritamente estrutural e a utilidade do desenho da infraestrutura metropolitana. A criação de uma paisagem fortemente atmosférica e, no fundo, profundamente arquitetónica, sem que essa fosse nitidamente uma intensão formal.

À época, a palavra sustentabilidade ainda não estava na moda.

“Porque se trata de uma tese em que tanto o material como as observações pessoais são consequentes de experiências pessoais e directas, aspecto da maior relevância e interesse, tendo em conta que quase todos os trabalhos deste tipo (tese de doutoramento) se apoiam em material de fontes secundárias. Porque as conclusões que esta tese pode alcançar, situam-se num território que cabe clarificar como de estritamente arquitetónico, pelo que as mesmas são do maior benefício para quem pretende ser arquitecto.”

Cito  Rafael Moneo, a propósito da sua obra escrita e imagética «Luz Cenital» que rapidamente se tornou um ícone da teoria de projecto contemporâneo, sintetizando, em sábias palavras, aquilo que eu presenciei na referida e inesperada experiência da visita à Esplanada do Fórum das infraestruturas de Levante, comprovando que Elías Torres é um desses raros arquitectos que aqui (na opção de estudos E do PDA da FAUP) incessantemente procuramos, com o dom da simultaneidade e da espontaneidade, da teoria e da prática do projecto.

 

Nuno Brandão Costa, maio de 2024