Apresentação — Elisa Valero

«A boa arquitectura é convocada a transcender o seu próprio tempo. Os diamantes, tal como as obras de arte, são realizados num dado momento, mas nunca envelhecem. Encontramos a razão desta intemporalidade, nas palavras de Azorin: Tudo aquilo que é simples e primário não muda: mas tudo se transforma na sua irredutível permanência. O que é reduzido à sua expressão mais simples não sofre qualquer alteração

Esta citação de Elisa Valero, extraída do seu manifesto teórico, «A Teoria do Diamante e o Projecto de Arquitectura», já traduzido e publicado em diferentes línguas, poderia resumir em síntese, aquilo que observamos e depreendemos da expressão arquitectónica da sua obra.

Uma obra despojada, não no sentido ascético ou estético, mas no sentido da sua razão de ser. No sentido de permanecer legível conforme e apenas o seu intuito. Os meios restritos das suas edificações, afirmam uma liberdade intelectual, que lança a ressonância de uma linguagem subtil, mas clarificadora, com a qual a sua obra comunica com o mundo, de modo cristalino.

A sustentabilidade é um desígnio do todo, desempenhando um papel primordial neste desígnio, a própria sustentabilidade da forma.

Ou seja, a sua razão principal é a precisão, rasurada de ruído, de pretensa originalidade ou de artisticidade voluntária. O curioso resultado (ou não) é que os edifícios, na sua frugal materialidade ficam intensos, os espaços impressionantes e a beleza torna-se o natural protagonista da sua arquitectura, cujo humanismo se apresenta irreversível. Porque, também se pressente sempre, uma certa informalidade, que atribui às suas construções uma particular naturalidade.

Esta singularidade e sensibilidade da sua obra, terá levado o júri do prestigiado prémio internacional Swiss Architectural Award, a nomear e atribuir o galardão em 2018, tornando-se a Elisa, a primeira mulher da história, a receber esta distinção.

Contrariando toda a lógica-burocrática académica vigente, Elisa Valero, tem uma prática de projecto intensa, é doutorada e catedrática da Universidade de Granada, professora convidada na Accademia di Architettura di Mendrisio na Suíça, autora de escritos disciplinares que permanentemente cruzam a sua autoria oficinal com temas conceptuais, assumindo a investigação em arquitectura como indissociável da prática, antes um nexo de casualidade, da inteligência do seu corpo de trabalho de projecto:

Em suma e terminando como iniciei, citando a própria Elisa: “Esta profissão é para rebeldes.

Elisa, muito obrigado por teres aceitado o nosso convite para integrares o nosso perfil de doutoramento, sobre teoria e práticas de projecto.

 

Nuno Brandão Costa, 2022