Apresentação — Tony Fretton

Tony Fretton é um incrível arquitecto. O seu trabalho começou a chamar a atenção da crítica internacional no início dos anos 1990, com a construção do idiossincrático edifício da Lisson Gallery em Londres, cidade onde tem o seu gabinete de arquitectura, cuja produção rapidamente se expandiu para fora de Inglaterra. A Lisson Gallery propunha em absoluta contra-corrente, um novo modo de expor a arte contemporânea, através de uma construção urbana, quase indistinta do tecido morfológico que a rodeia, que, no entanto, serviu para lhe atribuir um muito distinto significado. Tomando partido da irregularidade volumétrica do seu entorno, mimetizou num único plano, a fragmentação envolvente e absorveu a riqueza dessa mesma variabilidade, submetendo-a para seu próprio experimentalismo. Não é para todos.

Na sequência surgiram outras obras icónicas, como a majestática Red House no bairro de Chelsea, cuja ressonância renascentista, eu tive o privilégio de testemunhar e sentir numa bela manhã londrina, quando entrevistei o nosso convidado, para um livro da série “Band à Part” que, entretanto, acabei de escrever, sobre três obras superlativas de arquitectura contemporânea, nas quais figura precisamente, a Lisson Gallery. Ou o magnífico Museu Fulsgang, construído no sul da Dinamarca, um exercício arquitectónico de equilíbrio perfeito entre classicismo e contemporaneidade, contextualismo atmosférico e acerto de precisão formal. No meu entender, a intemporalidade, essa dificílima condição da obra arquitectónica maior, é o mais justo modo de classificar a sua vasta obra, cujo talento também se revela no à vontade e naturalidade com que encara uma diversidade impressionante de programas e escalas. Para além da obra construída, Tony Fretton, tal como todos os grandes arquitectos, assenta a sua obra mental, num esclarecido e selectivo referencial, habitado pelos grandes mestres modernos (Le Corbusier, Mies Van der Rohe, Alvar Aalto e Louis Kahn), o construtivismo soviético, arquitectos nórdicos como Peter Celsing e Sigurd Lewerentz, o classicismo anónimo britânico e italiano e o contemporâneo Álvaro Siza, autor com quem partilha o gosto pelo desenho de esquisso, cuja utilidade é fundamental para conceber a sua arquitectura. Esta sua particular vocação teórica foi recentemente compilada na publicação «Articles, Essays, Interviews and out-takes». Com uma escrita que se afasta dos entediantes e estéreis ditos “artigos científicos”, fala de Arquitectura, de um modo simples, directo e apaixonado. A sua obra tem sido regularmente publicada pelas principais edições de referência internacional, destacando-se as monografias da Gustavo Gili, Quart Verlag e Birkhauser. No seu currículo como educador, elenca-se a presença no ETH de Zurique, no GSD Harvard, em Cambridge, na EPFL em Lausanne, na Universidade Técnica de Delft, na Architectural Association em Londres, e no Berlage Institute, nos Países Baixos, entre outras.

Foi para mim uma enorme honra fazer esta apresentação, de um dos arquitectos europeus que mais me fascinam e admiro e penso que talvez estejamos todos de acordo, de que somos uns privilegiados em ter connosco o arquitecto Tony Fretton, a fechar o seminário 2 da opção E do PDA, Teoria e Práticas de Projecto. Muito obrigado.

 

Nuno Brandão Costa, junho de 2023