The T2P research group carries out research in the area of the relationship between theory and the practice of design in the field of Architecture. The group’s object of study does not have a rigid geographic delimitation, but it will privilege research in the area of so-called Portuguese Architecture (in Portugal and around the world), without excluding foreign architecture and architects with architectural affinities with our particular design methods. Furthermore, the object of study does not have a rigid chronological delimitation but will always privilege Contemporary Architecture (in the sense of what is done today and now) or, in the case of studies on architectural practices of the past, in their (historical) relation to the architecture of today.
The methods adopted by the group will be neither exclusively scientific nor exclusively empirical. The group will always privilege the importance of empirical data but will also seek plausible explanations for the researched architectural styles that ultimately allow for a better understanding of these, extracting from them teachings for future architectural practices. The research methods adopted by the group will place great importance on drafting, on its virtues and its problems, that is, on the ability of drafting to bring visibility to the problems upon which architecture is moved and built. When not explicitly present, the research modalities of the group will always privilege its methodological characteristics: intuition, redesign, recognition of morphology, its strategic dimension, proportion and scale, demonstration of an idea, the trial-and-error method, the overlapping of possible solutions to the same problem, etc., etc.
The group has chosen to call itself “Theory and Design Practices” for the following reasons:
a.) theory, singular, to declare the importance given to the world of ideas that traverse the time and space of history and that would, ideally, form a unitary corpus of the discipline, in which contradictions and dissent exist but are softened;
b.) design practices, plural, to represent the plurality of hypotheses and directions that the craft of architecture does not and could never impede, which the group intends to cultivate as an openness to the world (of men and ideas), but refuses as common-place that today anything is possible and valid in a kind of pluralism without a name or ideas that this collective, currently being formed, recognizes, but does not see as reflective of itself.
Furthermore, the group believes in the modern project as the last link of architecture as a craft with day-to-day life, in a perspective that is progressive but not blind to history. The group sees itself reflected in and wishes to continue the legacy of the masters of the modern movement, in the pre- and post-war era, which is why it continues its research into the modern.
O André Tavares tornou-se uma figura relevante e incontornável do debate e da cultura arquitetónica.
Hoje em dia, nas faculdades de arquitetura, ouvimos diária e compulsivamente falar em investigação e todos se intitulam como tal, na maior parte das vezes, de modo arbitrário e sem nexo. O André é a personificação paradigmática e de referência, da investigação em arquitetura, em múltiplas plataformas e registos. Com uma, já extensa, obra realizada dentro e fora da academia. Uma obra sempre marcada pela originalidade e sofisticação dos conteúdos e pelo modo independente de os tratar e apresentar. Sempre no fio do rigor extremo, como uma sensibilidade exclusiva e com o necessário e doseado pragmatismo metodológico, sem o qual, nenhuma obra se finaliza. O resultado é um corpo de trabalho muito sólido, de enorme qualidade, que tem vindo a ganhar, expressiva reputação internacional.
Tudo isto que acabei de enunciar, não pertence ao domínio da subjetividade. Está fundado em inúmeros factos, a maior parte deles públicos, dada a sua difusão e notoriedade. Vou apenas enumerar alguns, não por serem os mais relevantes, dado que essa hierarquia no seu currículo não faz muito sentido, antes porque tive que selecionar, de modo a rapidamente lhe passar a palavra.
Licenciou-se e doutorou-se em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, onde foi também professor assistente, papel que também desempenhou na Universidade do Minho, onde foi investigador principal, sendo também investigador convidado na École d’architecture de la ville et des territoires Marne-la-Vallée , no a Observatório da condição suburbana da Universidade Gustave Eiffel, em Paris.
É desde 2021, investigador Principal do CEAU da FAUP, tendo sido um dos cinco investigadores nacionais a ser este ano galardoado com uma bolsa de Consolidação do Conselho Europeu de Investigação, propondo-se a traçar uma história socioecológica da arquitectura no Atlântico Norte a partir dos peixes.
Este mais recente cargo seguiu-se à sua função como investigador residente no Instituto de Teoria e História da Arquitetura do ETH, em Zurique e professor de seminário de Teoria, na mesma Instituição. Consequencia dessa estadia, foi recentemente publicado, o livro, “Vitruvius without text, the biography of a book”, com o selo editorial da GTA Verlag. Por falar em livros, nesse campo, a sua produção é absolutamente esmagadora, como se costuma dizer, em “quantidade e qualidade”, cliché que aqui se aplica “que nem uma luva”. Destaca-se naturalmente o seu já famoso e celebrado compendio “A Anatomia do livro de Arquitectura”, fruto da sua investigação pós-doc, tida como bolsista independente no Centro Canadiano de Arquitectura em Montreal, editado pela Lars Muller, em parceria com a sua DAFNE, a mais consistente e distintiva, editora portuguesa de cultura arquitectonica e cujos livros encontramos muito facilmente, nas melhores livrarias das principais cidades europeias.
Acumula já, uma vasta experiência no campo da curadoria e da produção expositiva, sendo consultor e curador do programa de exposições da Garagem Sul do Centro Cultural de Belém. Foi o comissário da Trienal de Arquitectura de Lisboa sob o titulo e tema da « Forma da Forma» em parceria com o saudoso Diogo Seixas Lopes, com quem já tinha anteriormente, partilhado a direcção do Jornal dos Arquitectos da Ordem dos Arquitectos Portugueses, instituição que lhe atribuiu o Prémio Távora.
Esse memorável evento expositivo, teve um impacto único, catapultando a Trienal de Lisboa, para uma atenção e consagração da parte da critica internacional.
Permitam-me terminar com uma nota pessoal, mas foi exactamente nessa ocasião, que tive pela primeira vez, o privilégio de trabalhar com o André Tavares.
Quando o José Miguel Rodrigues me desafiou a organizar este seminário da Opção E do PDA da FAUP, o seu nome surgiu-me com a maior das naturalidades, como: absolutamente essencial.
Obrigado André, por teres aceitado o nosso convite, que tanto prestigia o nosso curso.
Nuno Brandão Costa, 2021
Kersten Geers is a Belgian architect born in the mid 1970´s, the same decade from when he selected some of his main declared references of architectural works, such as those built by Aldo Rossi and Robert Venturi.
Despite this temporal and formal referential universe, his work is not closed in ideological or historical dogmas or styles, and is always moving forward towards experimentalism, in constant change of directions to find form, space, scale and diverse materiality, according to specific programmatic needs and features of places.
Together with his partner, David Van Severen, he has been building an expressive and dense body of work, which constantly intersects theory and practice, teaching and design, aiming at a research path with a growing content still in expansion that informs the logic and reason of their projects.
In the beginning of the new century, Kersten Geers and David Van Severen introduced a disruptive posture in this area, drawing without numbers (digital numbers), but with deep sensitivity and extreme simplicity, they managed to keep an ostensive distance from the virtual-digital sterile world of the contemporary mainstream architecture, and bring back a radical attention to the classic, the basic geometrical form, focusing on the need to keep it rational and appropriate, never missing the ultimate point of architecture, which is to bring beauty to the world.
With this practical attitude, Kersten Geers blows out a powerful rhetoric fulfilled with in-depth architectonic message, pedagogical intent, and research goal, placing architecture in its precise and autonomous place.
In the international architectonic and cultural scene, there is no need to introduce Kersten: he won the Silver Lion in the Venice Biennial in 2010, he has taught at Harvard GSD, Columbia GSAPP, Yale school of Architecture, Lausanne EPFL and Mendrizio Academy, and has an impressive list of monographic publications in the main editions of reference.
Kersten, it is a great honor to have you lecturing in our PHD course. The floor is yours. Thank you so much.
Nuno Brandão Costa, 2021
«Questões formuladas num vocabulário sombrio, por vezes severo, que não faz concessões à retórica: planos, das geometrias elementares, secções e elevações que evidenciam os volumes, costelas, sólidos e vazios por meio de sombras agudas. Desenhos demostrando edifícios reduzidos a apenas alguns elementos, quase como se fossem ruínas ou fragmentos de uma única grande construção.»
Esta é uma citação das últimas frases do prefácio da mítica publicação “Architettura lingua morta”, escrita pelo nosso convidado para a aula magna de hoje, Luca Ortelli, publicada por Quaderni di Lotus em 1988.
Falando de Giorgio Grassi, Luca Ortelli revela um olhar e um sentimento sobre a essência da arquitectura. Como ele também o faz, tão claramente, na sua famosa série de conferências, que eu tive o privilégio de assistir, quando leccionava na Universidade de Navarra, intituladas “Modernismo Sem Vanguarda”, expondo uma metodologia interpretativa, de enquadramento e explicação da obra de Heinrich Tessenow, Erik Gunnar Asplund, Sigurd Lewerentz ou Hans Schmidt.
Luca Ortelli é notoriamente reconhecido, pela sua importância no ambiente académico europeu, pois ensinou, leccionou e publicou nas universidades mais influentes: Zurique, Mendrisio, Genève, Lausanne, Lugano, Bolonha, Veneza, Pamplona e também na nossa Faculdade, onde leccionou no curso EAPA (Estudos Avançados em Projecto de Arquitectura) em 2015.
Tem escrito sobre arquitectura, nas principais editoras culturais e críticas da disciplina, como Lotus International, Casabella, Domus, AA. VV., Faces, Matières, Werk Bauen und Wohnen, Archi, Revista di Architettura entre outros; e tem sido editor chefe da Lotus International, de Stella Polare e da colecção: Essai d’Architecture da EPFL Lausanne, instituição onde ensinou e teve vários cargos de direcção.
Regularmente, Luca Ortelli publica livros e textos, sempre em torno de um profundo fascínio intelectual sobre o moderno da tradição clássica, problematizando sobre a sua força subliminar, intemporalidade e a permanente actualidade na contemporaneidade.
Luca, é uma grande honra tê-lo a leccionar no nosso curso de doutoramento. Muito obrigado.
Nuno Brandão Costa, 2021
Our guest of today, Philip Ursprung, is a teacher and researcher at the ETH in Zurich, where he has been the Dean of the department of architecture during the period between 2017 and 2019.
Besides that, he has been teaching and lecturing in the most prestigious Academies of Europe and of the United States, the country he was born in, in the early sixties.
He has studied Art history, History and German Literature, and probably due to this, he has developed an intellectual, phenomenology referential with architecture. In his work, History is not approached as an academic narrative, but as an experimental task. And research is not carried out as a conventional scholar method, but rather as an open and creative process. To formalize this experience, he crosses possibilities and approximations towards an evolution of the theory and does not treat the theory itself as such.
He crosses Architecture and Art, and Nature assumes the major role in the equation of reason and creation of things, “blurring boundaries”. One could say that history, theory and the subjects, are raw materials to be used for a conceptual practice which aims at attaining something, culturally and ecologically relevant and influential.
In his own words: “I look for places of transformation”, so memory and manifesto emerge in his work with the proper balance and the adjusted trace, to open wide possibilities of thought and action.
I had contact with the work of Philip Ursprung in 2005, when I came into contact with his work “Natural History”, the beautiful catalogue of the Canadian Centre, exhibition of Herzog & de Meuron, “Archaeology of the Mind”. The exhibition our today´s guest curated and edited in such a brilliant and exquisite way proposes an original and performing alternative (maybe the only one possible, I dare to say) to “ Herozg & de Meuron – une exposition” at Centre Georges Pompidou in Paris, curated at the time by the conceptual artist Remy Zaug, which I had the privilege of testifying (part of) the revolutionary process and the glorious opening in 1995, exactly 10 years before the CCA event.
In 2017, Philip was awarded the prestigious Swiss grand award for art, the Merit Oppenheim Prize. Not only due to this, but due to everything else already mentioned, it is a real honour to have you as a guest professor in our seminar of the E profile of the FAUP PHD program. Thank you very much.
Nuno Brandão Costa, 2021
“Good architecture is summoned to transcend its own time. Diamonds, like works of art, are made in a given moment, but they never age. The reason for this timelessness is clearly explained by Azorin’s words: “Everything that is simple and primary does not change: everything is transformed in its irreducible permanence. What is reduced to its simplest expression is unchanged.”
This quote by Elisa Valero, taken from her theoretical manifesto “The Diamond Theory and the Architectural Project”, which has already been translated and published in different languages, could sum up what we observe and deduce from the architectural expression of her work.
A stripped-down work, not in the ascetic or aesthetic sense, but in the sense of its reason for existing. In order to remain legible according to its purpose and only its purpose. The restricted means of her buildings affirm an intellectual freedom, which launches the resonance of a subtle but clarifying language, with which her work communicates with the world, in a crystal clear way.
Sustainability is a design of the whole, playing a key role in this design, the very sustainability of the form.
In other words, its main reason is precision, stripped of noise, alleged originality or very artistic volunteers. The curious result (or not) is that the buildings, in their frugal materiality, become intense, the spaces become impressive and beauty becomes the natural protagonist of its architecture, whose humanism appears to be irreversible. Because you can also always sense a certain informality, which gives her constructions a peculiar naturalness.
This uniqueness and sensitivity of her work led the jury of the prestigious international award, the Swiss Architectural Award, to nominate and award it to her in 2018, making Elisa the first woman in history to receive this distinction.
Contrary to all current academic bureaucratic logic, Elisa Valero has an intense project practice, holds a doctorate and is a professor at the University of Granada, a guest professor at the Mendrizio University in Switzerland, author of disciplinary writings that permanently cross her official authorship with conceptual themes, assuming architectural research as inseparable, rather a casual connection, from the intelligence of her project work:
In summary and to end in the same way I started, quoting Elisa herself: “This profession is for rebels”.
Elisa, thank you very much for accepting our invitation to join our PhD profile, on “theoretical design practices”. It would be difficult to find a more appropriate curriculum to teach this course. The floor is yours.
Nuno Brandão Costa, 11th February 2022
O nosso convidado de hoje, José Paulo dos Santos, é um arquitecto formado em Canterbury e Londres, que leccionou em distintas instituições internacionais, destacando-se o ETH em Zurique, Universidade de Rhode Island nos Estados Unidos e Universidade de Bolonha em Itália, sendo actualmente professor de Projecto 4 na FAUP.
A sua obra foi exposta nas universidades de Harvard e Columbia, publicada em editoras de referência, A+U, AV, Casabella, Domus Internacional e o seu trabalho foi compilado numa incomum monografia, edição da Rockport Publishers na série World Contemporary Architects, que sugiro a todos, se não conhecem já, a conhecerem com a maior brevidade.
Motivo, o facto de ter constituído um corpo relevante e muito coerente de obra privada e pública construída, permitindo-me destacar um belíssimo Kindergarten edificado na cidade de Berlim, obra pela qual foi galardoado com o prémio de arquitectura da Bund Deutschen Architekten em 1998.
Foi fundador e editor da mítica revista londrina de arquitectura 9H, razão pela qual hoje nos visita, para nos dar conta desses heróicos e seminais tempos de desenvolvimento, daquilo que consideramos ser da mais notável teoria de projecto.
A sua obra falada, escrita e construída é sempre subtil e elucidada, privada de rodeios, directa, mas muito rigorosa. Os seus projectos apresentam sempre ressonâncias daquilo que se poderá considerar a arquitectura de raiz racionalista, mas contrapõem uma maleabilidade aos lugares e às atmosferas, conseguida pela articulação entre espaços e a respectiva materialidade, definida na sua aberta exposição.
A precisão da definição urbana é sempre objecto principal da sua obra construída. A arquitectura de José Paulo dos Santos, quando olhada a partir da cidade, apresenta sempre uma paridade com o contexto sem abdicar da assunção do projecto como definição nova e de projecção do porvir.
Caro José Paulo, agradeço ter aceitado o nosso convite de leccionar esta tarde no nosso perfil de doutoramento, que certamente irá enriquecer o conhecimento dos nossos doutorandos.
Nuno Brandão Costa, 2022
Pier Paolo Tambureli is an Italian architect who works in Milan. This in itself imposes a certain architectural authority, especially for us, who remain highly motivated by the modern work of the Renaissance and the rationalist work of the great masters of the North, Aldo Rossi and Giorgio Grassi.
On the first event he has just published On Bramante and on the second event he published Due saggi sull´architectura, a book he gave me in the summer of 2013, which I read on the beach in Moledo, under the mist of the Atlantic, which seemed to me the perfect scenario for a dreamlike homily of timeless architecture.
In both texts he proves his project-theory that ancient and recent history, in architecture, do not exactly have a conventional chronology; rather, they are matter of permanent (ir)reflection, used, in a timeless manner, for the mental construction of the architectural project. This is what we see when we look at its most important building, the Casa della memoria, built in the Lombard capital. An opaque and dense square volume composed under the rigidity of 3 structural alignments, which reveals an unexpected fluidity and a surprising spatiality Chandigarh-style inside. The vault has the appearance of a tectonic altarpiece with depths of images in brick masonry, the same as the pediments of Filipo Brunelleschi’s basilicas, because they were not finished in marble. The portraits and scenes that confer charisma and content to the façade are, as in Piero della Francesca’s paintings, absolutely two-dimensional and in depth, in this case, de-materializing the solidity of its construction and diluting the abstraction of its materiality.
His office is entitled BAUKUH, a term that evokes the art of building as architecture is defined by the German language.But the language of neologism makes room for something that may transcend the mere social utility of the craft. His theoretical and practical work is, in fact, theoretical-practical and it will be virtually impossible to separate his built work from his written work. Founder of the most interesting and influential scientific magazine on European architecture in recent decades, San Rocco (whose title quotes one of the most radical unbuilt projects by the ephemeral duo Grassi Rossi), Pier Paolo speaks and draws architecture and its project, in a mixture of official ease and knowledge of gravity. The true Loosian Mason who knows (a lot) of Latin.
Like most good and important architects, he is an all-encompassing professor, having been a professor at the Polytechnic of Milan, the Berlage Institute, the Technical University of Munich (TUM), the Harvard GSD, the University of Illinois in Chicago, and the Porto Academy at FAUP, where we are now pleased to welcome you back to our doctoral course’s option of study E, Theory and Practice of Design. At the moment, he is a professor at the University of Technique (TU) of Vienna of Austria for the subject of Theory of the Design. The history of our course would never be complete without an architecture lesson by Pier Paolo, whom I thank for having promptly accepted our invitation. Grazzie mille.
Nuno Brandão Costa, 14th March 2023
Our guest today, Daniel Blaufuks, is an artist whose creation is based on the photographic image, film, video and other visual records, originating from the recording of reality, through the functional use of light, its reflection and refraction.
The content of his work constantly crosses memory and history. Both are distinct and provide the clarity of a particular atmosphere.
The archive of objects, places and people constitute a considerable area of his conceptual becoming. It can be considered an activity in which the documentary object acquires a special relevance to enter into the world of ideas that the artist proposes.
Format and size also play a key role in suggesting, and critically perceiving, what is presented. They vary according to the image represented and the purpose of its apprehension, and therefore the scale of its meaning.
Very important and artistically distinctive, the book occupies a central role in the genesis of his work, always perceived as a completely autonomous object. A self-sufficient artistic object with a specific language and, therefore, a defined and individual aesthetic purpose. Travel, literature or dialogue with other authors are often the impetus for their content and optical accounts, which, with each page, are detached from the original reference to other figures, other scenes and appearances or other perspectives.
In our study option (E), architecture is unequivocally not an art and Daniel’s work has apparently nothing to do with architecture. And project work deals, on a daily basis, with the functionality of techniques from other specialities that are more in line with precise engineering codes and numbers, definitely far removed from the relativity of the so-called social sciences’ equivocation. On the other hand, it has already been noted that the reasoning methods of art share common ground with the conceptual methodologies of architecture and, in this case, the work in design theory makes use of analogue and imagistic study systems, the similarity of which can be seen in our author’s reference today: in addition to appreciating the quality, notoriety and celebrity of his work, understanding the construction procedure of his body of work could be a useful and fertile parallel for the theories and practices of design that are being undertaken here, which is why this invitation seemed obvious to us. We thank the illustrious artist Daniel Blaufuks for his presence, for the first time I believe, at the Faculty of Architecture of the University of Porto.Thank you, Daniel.
Nuno Brandão Costa, 24th March 2023
Irina Davidovici is an architect who has dedicated herself to doing research on the area of Architecture, specifically on the issues of design, urbanisation, collective and cooperative housing in European cities, modern and contemporary Swiss architecture.
She holds a PhD in History and Philosophy of Architecture from the University of Cambridge which she completed in 2008, and her doctoral thesis was published as a book with the title Forms of Practice, German-Swiss architecture 1980-2000, which was awarded the RIBA President’s Research Award for Outstanding Doctoral Thesis in 2009.
I would like to draw your attention to the assertiveness and momentum of the title in this brilliant publication, which admits a double and suggestive reading in Portuguese: Forms of Practice or Practices of Form if you prefer. I would also like to point out the intelligence of the choice of time and context of the publications and their utter quality, as well as the choice of their authors, whose critical recognition is unquestionable. Obvious as it may seem, it is a very relevant attribute as it makes this exercise of synthesis of a period, whose reflection and influence in the history of architecture and in subsequent generations of architects is still overwhelming, even more important. I imagine this choice not to be unrelated to the time the architects’ duo Herzog & de Meuron spent in the Basel office and the contact with the conceptual practice of these authors, something that I naturally understand and with which I certainly feel great affinity (for the choices and for the time), difficult to conceal. In this work she develops her project-theory with simultaneous simplicity and sufficient critical elaboration, to the point of creating robust and very precise concepts to explain the publications from the architectural analysis and synthesis of the project-objects, the context of their geographical place, their history and the conceptual tensions with the tradition and the authoring queries, creating an articulated new state of the art and an original paradigmatic framework of case studies of undeniable value.
Irina has lectured and published in various international forums, having been a lecturer at EPFL in Lausanne, GSD Harvard, Kingston University in London, and ETH Zurich, where she is currently the Director of the respective archives (GTA).
Before closing, I would like to anticipate that we are anxiously awaiting the publication of her two latest works, whose simple utterance fosters our curiosity:
“Common Grounds: A Comparative History of Early Housing Estates in Europe” (Triest Publishers, Zurich) and “The Autonomy of Theory: Ticino Architecture and Its Critical Reception” (gta Publishers, Zurich). (The latter being especially resonant in the context of the present room).
Dear Irina, we thank you for your availability and diligent acceptance to teach this class in our PhD programme, Project Theory and Practice.
The floor is yours. Thank you very much.
Nuno Brandão Costa, 28th April 2023
Tony Fretton is a great architect. His work began to attract international critical attention in the early 1990s with the construction of the idiosyncratic Lisson Gallery building in London, the city where he has his architectural practice, whose works quickly expanded outside England. The Lisson Gallery proposed, in an absolute counter-current, a new way of exhibiting contemporary art through an urban construction, almost indistinct from the morphological fabric that surrounds it, which, however, served to confer it a very distinct meaning. Taking advantage of the volumetric irregularity of its surroundings, he mimicked the surrounding fragmentation in a single plane and absorbed the richness of this same variability, submitting it to his own experimentalism. This is not for everyone.
Other iconic works followed, such as the majestic Red House in the Chelsea neighbourhood, whose Renaissance resonance I was privileged to witness and feel on a beautiful London morning, when I interviewed our guest for a book in the series “Band à Part” that I have just written, about three superlative works of contemporary architecture, in which the Lisson Gallery is an agent. Or, the magnificent Fulsgang Museum, built in Southern Denmark, an architectural exercise in perfect balance between classicism and contemporaneity, atmospheric contextualism and formal precision. In my opinion, timelessness, that most difficult condition of a major architectural work, is the fairest way to classify his vast work, whose talent is also revealed in the ease and naturalness with which he faces an impressive diversity of programmes and scales. In addition to the work that has been built, Tony Fretton, like all great architects, bases his mental work on an enlightened and selective referential, inhabited by the great masters of modernism (Le Corbusier, Mies Van der Rohe, Alvar Aalto and Louis Kahn), Soviet constructivism, Nordics such as Peter Celsing and Sigurd Lewerentz, anonymous British and Italian classicism and the contemporary Álvaro Siza, with whom he shares a taste for sketch drawing, whose usefulness is fundamental to the conception of his architecture. This theoretical vocation of his was recently compiled in the publication “Articles, Essays, Interviews and out-takes”. With a writing that moves away from the boring and sterile scientific articles, he speaks of Architecture in a simple, direct, and passionate way. His work has been regularly published by the main international reference editions, in particular monographs by Gustavo Gili, Quart Verlag and Birkhauser from Zurich, and in his curriculum as an educator he has attended the ETH Zurich, the GSD Harvard in Cambridge, the EPFL in Lausanne, the Technical University of Delft, the Architectural Association in London, and the Berlage Institut in the Netherlands, among others.
It was a great honor for me to present one of the European architects by whom I have the deepest fascination and admiration. I think we all agree that we are very privileged to have the architect Tony Fretton with us to close seminar 2 of option E of the PDA (PHD), Theory and Practice of Design. Thank you very much.
Nuno Brandão Costa, junho de 2023
Renata Sentkiewicz fundou com Iñaki Ábalos em 2006, o gabinete de arquitectura internacional Ábalos+Sentkiewicz, com escritórios em Madrid, Boston e Shangai. Os seus projectos constituem uma prática fortemente experimental, sem preocupações de definição estilística ou formal. As suas construções provêm de uma abordagem programática, paisagística e urbana, uma síntese do entendimento das possibilidades que as diversas relações de transformação que constitui o exercício do projecto podem constituir como obra metropolitana e ambiental, ou como os próprios referem, a oportunidade da construção de uma beleza termodinâmica.
Entre outras actividades didáctico-científicas, a Renata foi professora associada da ETSAM (Madrid) entre 2007 e 2012, ano em que se torna professora convidada do GSD em Harvard, actividade que mantém até hoje, sendo também membro principal da associação Zero Energy Alliance e editora dos Cuatro Observatorios de la Energía (COA Canarias, Santa Cruz de La Palma, 2007) e Campos Prototipológicos Termodinámicos (ETSAM, UPM, Madrid).
Formou-se na Escola Politécnica de Cracóvia e iniciou a sua carreira no gabinete de Ábalos & Herreros no ano de 1999, o célebre e celebrado estudio de arquitectura de Madrid, cuja produção foi amplamente influente entre os anos de 1984 e 2006, encontrando-se o respectivo arquivo, depositado no CCA em Montreal, no Canadá.
Iñaki Ábalos foi, juntamente com Juan Herreros, fundador deste laboratório arquitectónico que para a minha geração se constituiu como um movimento que, poder-se-á dizer, abriu caminho para a progressão de uma sequência geracional que perdura até hoje, que radicalizou a cultura essencialista da forma directa e económica até ao limite da expressão do anonimato, do standard convencional e da apropriação, conservação e reciclagem da pré-existência construída enquanto função, linguagem e forma. Autor das influentes publicações teóricas, «A Boa Vida: visita guiada às casas da Modernidade» (Gustavo Gili) ou mais recentemente «Absolute Beginners» (Park Books Zurique), entre muitas outras, a sua voz teórica acompanha com grande originalidade e coerência a sua prática de projecto.
Iñaki é professor catedrático na ETSAM (Madrid) tendo sido, entre 2013 e 2016, nomeado director do GSD em Harvard, instituição onde mantém diversa actividade pedagógica e cultural.
É com grande entusiasmo, que temos o prazer de receber no seminário da Opção E do PDA da FAUP, Teoria e Práticas de Projecto, Renata Sentkiewicz e Iñaki Ábalos, a quem agradecemos a disponibilidade de se terem deslocado ao Porto para partilharem connosco as suas prolíferas ideias e a energia contemporânea dos seus projectos.
Nuno Brandão Costa, abril de 2024
Moisés Puente é um arquitecto espanhol com um percurso académico formativo que inclui as escolas de La Coruña, Roma e Barcelona, tendo desde muito jovem manifestado um profundo interesse pela edição da obra projectada, construída e teórica de arquitectura e muito cedo revelado um especial talento e sentido de critério de qualidade e escolha, que levou a que precocemente integrasse o comité editorial da famosa revista do colégio de arquitectos da Catalunha, Quaderns d´Arquitectura.
Entre 1998 e 2020, dirigiu a edição da revista 2G, da editora Gustavo Gilli, tendo criado um paradigma editorial específico (alternativo a outras conhecidas edições monográficas do país vizinho, como a El Croquis, AV, TC Cuadernos, entre outras), alternando a edição de autores à época emergentes (por exemplo, tendo editado a primeira monografia de Lacaton & Vassal, de Ábalos & Herreros e Smiljan Radic) com uma visão especifica para autores históricos poucos reconhecidos na sua época ou de facções das suas obras menos divulgada. No primeiro caso assinala-se a publicação de monografias de Max Bill, Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas e Kazuo Shinohara (hoje nomes muito recorrentes, mas no fim dos anos 90, princípio dos 2000, nomes muito pouco falados nas academias e agendas críticas, ainda a ressacar da pós-modernidade), e no segundo caso, exemplos como edições monográficas sobre as casa de Mies Van der Rohe, a obra de Arne Jacobsen ou Gerrit Rietveld, entre outras.
Durante esse profícuo período na editora catalã, publicou uma série de livros de textos e entrevistas com arquitectos da modernidade e da contemporaneidade, pequenos livros que ainda hoje têm um enorme impacto nos estudantes, investigadores e arquitectos interessados em conhecer e compreender a disciplina e os seus principais protagonistas.
Paralelamente, foi explorando outras vias editoriais e autorais, destacando-se, entre diversos ensaios e edições, a sua monografia sobre o magnífico Alejandro De La Sota, realizada em co-autoria com Josep Llinas e Iñaki Ábalos, este último que nos visitou na última sessão deste ciclo intitulado «Suite Espanhola».
Desde 2020 tem dado continuidade ao projecto editorial 2G, agora publicado num novo formato, sob chancela da editora alemã Walther König, mantendo um estrito critério de qualidade, lançando novos autores da cena contemporânea, sobretudo europeia, e revisitando autores clássicos menos divulgados ou mesmo esquecidos, tendo recentemente editado um maravilhoso número sobre Alejandro De La Sota, com uma renovada visão crítica e imagética sobre o idiossincrático autor galego. Uma das principais características destas edições, é o cuidado na composição gráfica para uma determinada leitura da obra arquitectónica, a escolha do ambiente fotográfico, aliado a uma irrepreensível curadoria crítica, de qualidade superior.
Em 2016, criou a editora independente Puente Editores, dedicada à publicação de textos de arquitectos. Mais uma vez alterna a história, os clássicos e a contemporaneidade, sem dilemas cronológicos, editando livremente Sigurd Lewerentz, os Smithsons, Aldo Rossi, Cédric Price, Coderch, Kersten Geers, Radic, H Arquitectes e Iñaki Ábalos.
Recentemente publicou «Cháchara y otras historias de arquitectura» – uma pertinente e conhecedora análise crítica da produção arquitetónica contemporânea.
Em 2010 recebeu o premio FAD de Pensamento e Critica pela sua múltipla e polifacetada carreira como influente editor, divulgador, crítico rigoroso e criterioso autor no âmbito da visão crítica de arquitectura mas também, imagino, pela sua incansável paixão por divulgar a nossa fascinante disciplina.
Nuno Brandão Costa, maio de 2024
“Não como arquitecto, apenas como explorador da arquitectura, considero-me um diletante, no mesmo sentido em que um grupo de arquitectos e entusiastas de arte ingleses se baptizaram como a Sociedade dos Diletantes, que é como dizer: sinto-me muito mais guiado pela curiosidade e pelo fascínio, pelo diálogo entre os meus pares e pelo oficio, do que propriamente pela ânsia de uma qualquer precisão académica.
Interessam-me todos os aspectos da arquitectura, mas sempre senti uma particular curiosidade por ver os seus interiores, que amiúde se revelam enigmáticos e surpreendentes, muitas vezes distantes do que à primeira vista, aparenta a sua envolvente exterior e em muitos casos, caracterizados pela sua iluminação natural. A porta de um edifício, pode sempre conduzir à descoberta de um espaço inesperado.”
Elías Torres é um arquitecto do inesperado. Para o apresentar, para além das palavras do próprio que acabei de ler, vou utilizar a nota de uma memória pessoal:
No princípio deste século, era eu arquitecto há pouco tempo, fui visitar o recém inaugurado fórum de Barcelona, na ânsia de ver novos edifícios, que era como quem diz formas contemporâneas, disruptivas e vanguardistas, como era hábito suceder nestes eventos que entre o fim dos anos 90 e princípio dos anos 2000, se sucederam em catadupa. Mas de facto o que me abalou e me ficou na mente, não foi nenhum edifício ou pavilhão em particular. Antes um enorme espaço público reconfigurado através de um objecto utilitário e infraestrutural, que se erguia e virava para a luz solar, com uma escala e vigor impressionantes. Uma enorme pérgola fotovoltaica que simultaneamente captava a energia natural e abrigava o publico configurando um recinto, através de uma forma que se estabelece entre a ideia de uma escadaria monumental e um auditório clássico. A proposta urbana para toda a área apresentava-se toda, como uma superfície contínua e sucessiva de elementos arquitetónicos cuja identificação e tipologia não correspondiam à lógica convencional do edificado, antes à criação de um espaço urbano através da articulação entre momentos de relação entre a natureza e o artificio, a manipulação da dimensão e da escala do objecto estritamente estrutural e a utilidade do desenho da infraestrutura metropolitana. A criação de uma paisagem fortemente atmosférica e, no fundo, profundamente arquitetónica, sem que essa fosse nitidamente uma intensão formal.
À época, a palavra sustentabilidade ainda não estava na moda.
“Porque se trata de uma tese em que tanto o material como as observações pessoais são consequentes de experiências pessoais e directas, aspecto da maior relevância e interesse, tendo em conta que quase todos os trabalhos deste tipo (tese de doutoramento) se apoiam em material de fontes secundárias. Porque as conclusões que esta tese pode alcançar, situam-se num território que cabe clarificar como de estritamente arquitetónico, pelo que as mesmas são do maior benefício para quem pretende ser arquitecto.”
Cito Rafael Moneo, a propósito da sua obra escrita e imagética «Luz Cenital» que rapidamente se tornou um ícone da teoria de projecto contemporâneo, sintetizando, em sábias palavras, aquilo que eu presenciei na referida e inesperada experiência da visita à Esplanada do Fórum das infraestruturas de Levante, comprovando que Elías Torres é um desses raros arquitectos que aqui (na opção de estudos E do PDA da FAUP) incessantemente procuramos, com o dom da simultaneidade e da espontaneidade, da teoria e da prática do projecto.
Nuno Brandão Costa, maio de 2024
(translated by Ricardo Leitão from the original text by Lluís Clotet)
“Eu, Elías e José Antonio estudámos na Escola de Arquitectura de Barcelona. Estando eu três ou quatro anos à frente, durante esse período não nos encontrámos em nenhuma ocasião. Terá sido por volta de 1982, quando ainda não nos conhecíamos, que vi pela primeira vez uma obra deles publicada – concretamente o projecto de reabilitação que fizeram na Igreja de l’Hospitalet, em Ibiza – que me deixara muito surpreendido e entusiasmado.
Aqui estão algumas dessas imagens.
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Na altura, perguntara-me de onde viria aquele trabalho, tão distinto dos ensinamentos e das referências que recebêramos na Escola?
Como explicar aquele súbito aparecimento de uma linguagem delicada, pessoal, eficiente, elaborada e simultaneamente leve, que parecia advir e difundir-se do próprio edifício?
Onde teriam eles aprendido a trabalhar aqueles elementos aparentemente heterogéneos de uma forma tão inata, quase sem ensaio prévio?
Responder a tudo isto não seria certamente fácil nem imediato, mas comecei a intuí-lo à medida que nos conhecíamos e íamos criando laços de amizade, enquanto envelhecíamos e partilhávamos, com frequência, as primeiras memórias da infância, convencidos de que ali residiam as verdadeiras fundações do modo de ser de cada um de nós.
José Antonio contara-me que entre os cinco e os dez anos vivera com os avós paternos em Mata Sobresierra, uma pequena localidade da província de Burgos onde aprendera todo o tipo de ofício com o seu querido avô Dionísio. Auxiliava-o na confecção de utensílios, no conserto de ferramentas, na atrelagem dos bois, na lubrificação das carroças, no afiar das foices e na confecção das selas. Com ele espalhava e aventava as colheitas na eira, ajudava-o a conduzir o tractor, a percorrer os montes reparando-os com pedras novas, a acender a palha no forno comunitário para fazer pão, a pescar caranguejos no rio, a fazer compotas e a participar na matança do porco e na preparação das suas carnes… entre muitas outras coisas.
Entretanto, Elías passara a infância em Ibiza, entre a casa dos avós no porto e os estaleiros, onde o seu avô e o seu pai, construtores navais, construíam barcos. Lá aprendera a desenhar na mesma mesa dobrável onde eram desenhadas as seções longitudinais e transversais dos reforços anelares, rodeado de ferramentas, compassos e hastes de óculos carey, que deformava com pesos de chumbo para desenhar curvas complexas… tudo isto impregnado de um forte cheiro a resina e a alcatrão.
Elías contou-me, entretanto, que o seu avô Antonio instalara no telhado um engenhoso dispositivo inventado por si para fornecer água quente para o chuveiro, e que o seu pai construíra uma magnífica clarabóia que podia ser regulada por um conjunto de barras, cordas e argolas que lhe permitiam ter, continuamente, uma luz agradável no seu quarto. Também Elías fazia os seus pequenos barcos com ossos de choco que nadavam no porto diante de si, e construía moinhos de vento, catracas, fisgas e pipas que fazia com junco e papel colado com pasta de farinha. Dos dois, ouvi histórias que contavam o ambiente particular em que viveram e inúmeras anedotas que, parecendo diferentes, eram na verdade muito parecidas.
Os dois viviam mergulhados num mundo artesanal no qual não havia qualquer fronteira entre as mãos e o cérebro, entre a teoria e a prática, a técnica e a expressão, o artesão e o artista, o produtor e o utilizador, o trabalho e o jogo, o útil e o belo.
Por outro lado – contaram-me – tratava-se de uma sociedade na qual se evidenciava uma relação estreita e clara entre o esforço pessoal e o resultado final desse esforço. Ligação que, por um lado, tornava impossível esconder dos outros a responsabilidade de cada um e que, por outro, estimulava o orgulho pelo trabalho bem executado.
Tratava-se de uma sociedade preocupada com um certo tipo de pragmatismo, a poupança e a durabilidade das coisas. Tudo era preservado e aproveitado. Tudo era consertado porque quase todos entendiam a construção e o funcionamento das coisas que utilizavam.
Este ambiente em que os dois cresceram, de grande força e coerência, num tempo em que as coisas se aprendiam realmente, moldou profundamente José Antonio e Elías. E fê-lo com tal intensidade que por detrás da personalidade e do imaginário de cada um, das diferentes formas que tinham de fazer as coisas, acabavam sempre por encontrar esse elo de ligação comum, fundamental, que os une aos dois.
Mais tarde ingressariam na Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona onde se conheceram e onde quase ninguém sabia o que eles já sabiam – nada menos que saber o porquê da necessidade de construir, de transformar as coisas e, sobretudo, de como fazê-lo. Eles tinham visto isso de perto, tinham praticado, cada um à sua maneira e, de algum modo, tinham entendido.
Na escola encontraram um ambiente onde se valorizava a palavra, a representação, a fragmentação disciplinar, o pensamento… de certa forma distantes e desligadas da acção e do fazer. Tratava-se de um mundo universitário desvirtuado do que eles tinham experimentado como uma unidade natural e indivisível, um mundo onde naquela época coexistiam numerosos debates entre académicos, funcionalistas, venturianos, rossianos, semiólogos, sociólogos e políticos radicais, para dar alguns exemplos. Embora jovens, não caíram na ingenuidade de tentar compreender o mundo para o transformar, nem acreditaram nunca em possíveis paraísos futuros. Não deram grande importância a todas aquelas preocupações omnipresentes naquela altura, como o demonstra o facto de não encontrarmos vestígios daquelas influências, nem nos seus escritos, nem nas suas primeiras obras.
Além de novos colegas e de novas amizades, que não foram poucas, penso que a Escola não lhes trouxe nada de verdadeiramente relevante, tampouco questionou o que já haviam aprendido.
Começaram a trabalhar juntos pouco depois de terminar o curso e após um brevíssimo intervalo de dúvidas e provações, imagino que um dia terão caído do cavalo e decidiram lançar-se, determinados a recordar, valorizar e recriar aquela extraordinária cultura popular na qual viveram mergulhados durante a infância, que tão bem conheciam. Imagino que talvez apenas esta decisão poderá explicar como aquela magnífica obra de renovação da Igreja de l’Hospitalet surgiu como que por magia, repentina e aparentemente do nada.
Mas aquela cultura simultaneamente artesanal e rural, tão coerente, intensa, global, tão envolvente e sedutora que os influenciou enquanto brincavam, não só permeou aquele trabalho inicial e exímio, mas também viria a estruturar todo o seu trabalho posterior.
Em todas as suas obras, tão distintas entre si em escala e programa, encontramos evidências disso.
Vejamos algumas ilustrações.
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Esta entrada e montra de uma loja de ferragens, aparentemente discreta, é uma espécie de jogo de origami brilhante.
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Estas casas unifamiliares parecem querer demonstrar o jogo que verificamos quando se utiliza o modelo enquanto instrumento de projecto; modelo, esse, modificado constantemente sob o efeito das mãos que pensam e que poderiam manipulá-lo para sempre. A obra acaba por ser a expressão de um desses elos intermédios, provisórios, abertos e que estão longe do resultado concluído, sereno e fechado que nunca se procura alcançar.
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Muitas vezes a forma de abordarem as intervenções no património recorda-me as estratégias de remendar, consertar e costurar que viram e praticaram quando eram crianças. Na maioria das vezes são intervenções mínimas, localizadas, leves e engenhosas, que nunca se confundem com a base, que, pelo contrário, realçam, elavam e transformam. Talvez de um modo semelhante ao que tinham visto nos grampos de metal que remendam as fissuras dos potes de barro, ou nos pequenos latões polidos e brilhantes que mudam o carácter das grandes fachadas antigas.
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Quando se trata de organizar e qualificar grandes espaços, não procuram, de uma maneira tradicional, controlar o seu perímetro, mas antes plantar o seu interior com múltiplos objectos heterogéneos de grande carga escultórica, com a convicção de que desta forma será mais fácil e realista melhorar a sua condição urbana. A relação que se estabelece entre eles nunca é uma relação evidente, baseada numa geometria simples; é mais complexa e lembra a relação entre os brinquedos que ficam no chão por arrumar, sem uma ordem aparente, quando as crianças são mandadas para a cama.
E assim poderíamos continuar a olhar a sua obra desde esta perspectiva, encontrando por toda a parte traços claros daquela infância distante que tanto José Antonio como Elías fizeram questão de não esquecer, de não perder contacto com o que deles resta, de não se afastar do lugar nem das pessoas queridas que os acompanharam naquela experiência única e excepcional. Com este extraordinário material precioso e graças à sua enorme imaginação e sentido de compromisso, foram capazes de transformar esses materiais, mantê-los vivos e actuais, conseguiram escrever a partir deles novos e belos versos. Parabéns!”